Acredito que todos concordem que a relação entre assessoria de imprensa e as redações não é algo que pode ser definido como harmonioso. As duas partes envolvidas devem fazer um mea culpa nessa história, pois, da mesma maneira que existe aquele assessor chato que liga em uma hora inapropriada, oferecendo uma pauta inapropriada, existe o produtor mal educado, que nunca dá abertura para criar uma relação produtiva com a assessoria.

Ainda quando estudante, tive a oportunidade de estagiar na função de produtor de telejornal. Nessa época, vivenciei um dos “lados do balcão”, como costuma se dizer. E minha experiência na relação com as assessorias não foi muito positiva, lembro de só uma vez ter levado adiante uma sugestão de pauta. Possivelmente a pauta de televisão seja a mais complicada de produzir, mas, mesmo assim, é um número muito baixo.

Eu lembro de ter uma opinião preconceituosa quanto aos assessores de imprensa, no estilo: “os caras não têm noção de jornalismo. Como pode demorar uma tarde inteira pra me confirmar uma entrevista, etc.”. Por ser uma pessoa paciente, eu quase sempre dei atenção aos telefonemas, diferente de muitos colegas que só tiravam e recolocavam o telefone no gancho (não vou dizer que nunca fiz, pois, às vezes, é necessário).

Mas chegou um ponto que, pensando os rumos a seguir na carreira, eu pensei: “vou para a assessoria, pois eu tenho conhecimento do que é notícia e lá se trabalha menos”, outro mito que os jornalistas de redação sustentam em relação aos colegas assessores. Chegando na assessoria, pouco a pouco, vários estigmas foram sendo desfeitos.

Foi verdade que o meu ritmo de pauteiro me deu uma certa vantagem para o trabalho, mas eu conheci as dificuldades inerentes ao lado oposto do balcão. A produção de conteúdo é mais complicada na assessoria, acreditem. Na redação, você tem ilimitadas opções ao seu dispor. Na assessoria, não, você tem que trabalhar com o material oriundo dos seus clientes e adaptar isso ao interesse público, tornando-o notícia. Porém, mesmo que você trabalhe bem e a pauta fique “redonda”, você ainda vai depender de alguém na redação que visualize a sua ideia, se interesse por ela.

Mas como fazer isso sem conversar com a pessoa? Complicado. Claro que alguns relacionamentos vão acontecendo, alguns jornalistas de redação passam a gostar do seu trabalho e se cria um modelo de comunicação. Mas nós assessores temos uma necessidade contínua de ampliar os canais, pois, parecido com o trabalho em vendas, a cada mês nossas metas zeram, precisamos gerar novos resultados e não podemos encher a paciência justamente do jornalista com o qual temos uma boa relação.

O que fazer, então? Na assessoria, acredito que a solução está em pensar e agir como em uma redação. Estando informado sobre os assuntos do dia, buscando produzir conteúdos embasados em dados e não meramente propagandistas. De maneira geral, realizar a função de transformar os fatos e os conhecimentos do cliente em notícia, auxiliando quem está na redação.

Para conseguirmos, não podemos deixar de ter o jornalismo no nosso DNA, temos que esclarecer para o cliente o que é ou não notícia. Explorar o que for, enviando aos canais certos e ter dinamismo no trabalho. Temos que explicar para os clientes que o tempo da redação é sempre o agora e, se quisermos ganhar espaço, devemos ser disponíveis e objetivos. Dessa forma, não só seremos melhores sucedidos no trabalho como também nos manteremos com o espírito essencial do jornalismo vivo: o de noticiar. Aí você não vai perder a simpatia dos ex-colegas de redação, sendo considerado aquele chato que está sempre pedindo um favor. Vai se colocar no seu devido papel, o de jornalista.

Por Pedro Guilhon

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